Decorreu ontem, em directo na televisão pública, o primeiro debate entre os cabeças de lista, dos partidos com acento parlamentar, às eleições para o Parlamento Europeu. E quem esperava a uma apaixonante troca de ideias sobre a Europa, o que é ser Europeu, e qual o futuro da União ficou com um sentimento de vazio.
Não que não tenham havido tentativas da moderadora de introduzir os temas. Mas quem viu o debate entendeu que se estava a fazer o julgamento público de um Governo e de uma crise que parece ser da sua exclusiva responsabilidade.
Os partidos da oposição, ao invés de discutir ideias, apresentaram uns supostos gráficos que afirmavam que Portugal está mais pobre e que o país vai na direcção errada; que há milhões a serem desperdiçados, que o governo isto e aquilo etc etc.
Parecia que estava a adivinhar quando escrevi que o Professor Vital Moreira ia parecer um estranho naquele tipo de debates. Não por desconhecer os números ou por ter de representar o papel de porta-voz do Governo, mas porque está nestas eleições com um espírito de serviço à causa pública neste momento de crise, espírito que todos parecem querer menosprezar. Acredita que pode servir melhor os seus nos corredores de Bruxelas ao invés das cadeiras da Universidade de Coimbra e não está nestas eleições para salvar o líder, nem para preservar o seu lugar. E disso não restam dúvidas!
Um exemplo saltou à vista de todos: o Professor Vital Moreira procura informar os portugueses do verdadeiro sentido que o seu voto terá nas eleições. Foi combatido com a táctica da desinformação e com ataques ao governo. Para umas eleições que se querem Europeias, e aceitando que o estado do país nunca pode ser ignorado, não é intelectualmente aceitável que seja este o pomo da discussão das eleições do próximo dia 7 de Junho.
Numa atitude pedagógica, explicou que os deputados portugueses se vão juntar a diversos grupos de partidos e que serão esses grupos que vão desenvolver as políticas do Parlamento Europeu. Parecia estar a dizer uma blasfémia. Os votos são nos partidos portugueses e nada mais!
É a infeliz prova que não se querem identificar com as famílias políticas que representam. Sobre isso não convém falar! Sim, porque CDS-PP e PSD são membros do Partido Popular Europeu, enquanto o BE e o PCP pertencem à Esquerda Unitária Europeia. Quem precisar de provas que não existe diferença em eles, basta reflectir sobre este dado.
Andam de candeias às avessas até fazer o check-in em Estrasburgo. Aí não existe diferença.
Não consegui também compreender a insistência de Paulo Rangel em obrigar o Professor Vital Moreira a prometer que ia votar em Durão Barroso para o próximo Presidente da Comissão Europeia.
Só quem está manifestamente mal informado, ou age com profunda má fé, pode querer que, antes das eleições, alguém se comprometa a votar neste ou naquele candidato.
Porque para aqueles que não querem saber, o Presidente da Comissão é escolhido pelo Parlamento, com os votos dos deputados através de comissários propostos pelos diversos governos. Ora, de uma maneira totalmente legítima e democrática, o Partido Popular Europeu impôs que o Presidente teria que sair das suas fileiras pois tinha sido constituída como a maior força política da União saída das eleições de 2004. Ao bom estilo Ferreira Leite, querem parar com a democracia no Parlamento durante 6 meses para que, independentemente do resultado, o candidato já esteja eleito, não dando voz aos que os elegem. É inaceitável!
Acredito que o governo Português, com um profundo sentido de estado vai propor novamente Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia não pelo seu desempenho excepcional, mas porque o Presidente é um primus inter pares e o facto de ser um português a ocupar aquele lugar garante-nos prestígio internacional e, ainda que não devesse ser assim, uma outra voz dentro das instituições comunitárias.
E afinal onde ficamos Nós, Europeus?
O Partido Socialista continua a ser o Partido que abraça a construcção Europeia, a entrada em vigor do tratado de Lisboa e a criação de uma Europa para todos.
Somos infelizmente obrigados a aceitar que os outros quatro partidos representados ainda têm muitas suspeitas relativamente à construção europeia: o PP e o PCP continuam a não disfarçar o seu euro-cepticismo o Bloco apenas aponta o que está mal e o PSD para além de não saber como ali chegou, também não sabe para onde vai.
Resta-nos esperar que seja o Professor Vital Moreira a dar-lhes luz sobre o que fazer na Europa.
RM
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